Deu ruim: duas vezes em que eu errei nos Roteiros

Pois é, meu povo… nem só de vitórias é feita a vida da Roteirista de vídeos. Mas se tem uma coisa boa que vem com o erro é o aprendizado – e se a gente compartilha a própria vergonha, o outro pode ter a chance de aprender sem passar vexame também. Olha que beleza!

As duas situações em que eu errei em Roteiros foram em momentos bem diferentes da minha vida: na primeira, eu ainda não tinha muita experiência; na segunda, já tinha cabelinho branco e tudo. Desse trelelê aí já dá pra tirar duas lições básicas: se você está começando e é do tipo perfeccionista hard, não se cobre tanto; e se você já é um xóvem idoso na arte milenar de roteirizar, saiba que não há bagagem nessa vida que te blinde de deslizar.

🔴 Erro 1: Minha estreia na Animação
O primeiro erro foi no roteiro de um Explainer Video, um tipo de animação que, como o nome já diz, geralmente explica algum produto, serviço ou processo.

Pois muito bem: eu trabalhava no time de comunicação de uma empresa e precisávamos produzir uma animação que “vendesse” uma pesquisa, um infoproduto. Eu já tinha feito vários Roteiros, mas seria o primeiro para um vídeo todo em animação. Estudei o conteúdo, público-alvo, a metodologia da pesquisa, os canais em que ela seria acessada… e depois de escrever o texto da locução, que seria o “texto guia”, fui fazer um esboço de storyboard (que nada mais é do que a sequência de telas que vão compor o vídeo).

Nota importante sobre “fazer” o storyboard: essa pessoa que vos fala não é designer, ilustradora e nem nada do tipo, então o “póbi” do meu storyboard raiz era na verdade umas 3 folhas sulfite com os frames rabiscados à lápis, cheios de bonequinho palito e desenhos que podiam facilmente ter sido feitos por uma kid de 4 anos. Resumindo: era só um storyboard “referência” pra que o Motion Designer pudesse seguir em frente.

E foi exatamente nessa etapa que o B.O. aconteceu. Não, não foram minhas poucas habilidades artísticas o problema; a treta foi com uma coisinha chamada tempo. Eu inseri no storyboard mais telas do que algumas frases permitiam, e na hora que a animação foi editada, as telas tinham que aparecer muito, muito rápido pra “casar” com a locução.

Mas não dava pra arrumar, mesmo com o vídeo pronto? Até daria, mas aí a gente cai naquelas outras “tretas” que citei na edição anterior da nossa news: além do fato de que eliminar telas significaria jogar fora parte do trabalho do Motion Designer, o prazo do projeto era bem apertado. O certo seria que eu, como Roteirista, tivesse calculado bem o tempo de conteúdo e locução – coisa que não fiz e, diga-se de passagem, não só acontece muito quando falta experiência do Roteirista, como também pode comprometer bastante a mensagem da animação.

E na hora de aprovar o vídeo com os gestores, batata: “ficou rápido!”. Só sei que no debate entre aguardar mais tempo para ajustar o vídeo ou sair dali com ele pronto daquele jeito mesmo, os líderes foram na segunda opção (talvez porque o problema aconteceu em alguns trechos “apenas”, e não no vídeo todo). O material foi para o ar e promoveu a pesquisa por um bom tempo, mas cada vez que minha eu boladona assistia o vídeo começava o autoflagelo: “Errei”.

E foi assim, meu povo, que aprendi a importância do timing no Roteiro e da contagem mais técnica do tempo, levando em conta pausas de locução, transições, tempo de leitura para letterings, assinaturas de logo, etc – o que me fez evoluir muito e passar a escrever roteiros profissas, mas não me blindou de nunca mais deslizar. E isso nos leva ao meu pequeno vexame n° 2.

🔴 Erro 2: Sobre temas sensíveis
Esse doeu, e não foi pouco. Talvez por eu já ter um pouquinho mais de experiência, talvez por ter acontecido dentro da minha própria produtora, talvez por ser o tipo de coisa que me deixa realmente na bad: saber que alguém não teve a reação positiva que eu esperava.

Recebemos de uma cliente recorrente o pedido de uma animação um pouco mais complexa: um vídeo extenso, de uns 18 minutos, que iria funcionar como um “painel” virtual: um filme sobre saúde emocional e os impactos de negligenciá-la. O conteúdo era denso, com vários subtemas delicados e muitos dados (esse inclusive foi um desafio na hora de escrever: citar todas as pesquisas e infos que embasavam o conteúdo sem que a animação parecesse um jornal – e sem que as pessoas dormissem, porque afinal de contas, 18 minutos não são 18 segundos).

Fiquei cerca de uma semana escrevendo o Roteiro: a animação precisava ser cativante, sensível, conscientizadora, informativa… e eu realmente estava dando tudo de mim pra que isso acontecesse. Pensei no público, na melhor linguagem, na abordagem, nas transições de temas… e quando finalmente recebi o feedback da cliente sobre o Roteiro, confesso que um cisco caiu no meu olho: ela tinha gostado muito, e eu, que coloquei o coração naquele material, senti que a missão tinha sido cumprida.

Só que não.

Quando a animação foi ao ar semanas depois, a gente soube que 3 ou 4 pessoas que estavam no evento criticaram alguns pontos do conteúdo. Hoje eu consigo perceber que o Roteiro, por mais cuidado que eu tenha tido com a abordagem, apresentava alguns gatilhos para temas sensíveis. E saber que de alguma forma eu deixei isso escapar foi duro pra mim.

Mais 72 ciscos caíram no meu olho quando a cliente ligou. Mas se você acha que esse B.O. acabou em tiro, porrada e bomba… sinto te decepcionar, amigo. Ela me tranquilizou, dizendo que tanto o Roteiro como a animação tinham atendido às expectativas do que foi pedido, e que o próprio time não tinha previsto que algumas pessoas poderiam ficar desconfortáveis com certos pontos abordados. Mas como Roteirista, titia aqui não se tirou da reta não: parte do meu trabalho é justamente prever possíveis ruídos de comunicação com o público e tentar, ao máximo, evitar que isso aconteça – e eu assumi isso para a cliente naquela call.

E no fim, o quê que deu?

A cliente não achou necessário alterar o material, mas sim ajustar a estratégia de veiculação: entendemos os pontos sensíveis e a equipe conseguiu direcionar ainda mais o público-alvo que assistiria a animação. Mas ainda assim, minha pessoa (que sempre se viu como a louca dos detalhes e que achava que tinha captado todas as particularidades do público quando escreveu o roteiro) ficou pistola consigo mesma uns bons dias por não ter visualizado o problema antes de acontecer.

E o que eu posso dizer pra vocês depois de expor esses dois pequenos vexames de minha vida roteirística?

Eu odeio errar, serião mesmo. E acredito que ninguém goste, principalmente quando você se esforça para oferecer o melhor. Mas voltando nas primeiras linhas dessa news, o clichê é verdade: errando você aprende muito. Aprende a aprimorar sua técnica, a ter um olhar ainda mais atento para coisas que você nunca imaginou que poderiam ser um problema e aprende que, seja com pouca ou mais experiência, você sempre está sujeito a deslizar (e não, tu não é o vilão que picou salsinha na tábua dos 10 Mandamentos, tu só é um ser humano mesmo). Já dizia o mestre Chorão: “dias de luta, dias de glória”.

Logo, logo, vem mais vexa…opa, mais uma edição por aí, meus amigos. Até!

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